quarta-feira, janeiro 04, 2006

Mais de metade copiam


Um inquérito de duas investigadoras da Faculdade de Economia do Porto, realizado junto de uma amostra de 2700 estudantes do Ensino Superior, revelou que 60% admitem copiar nas provas de exame, e que a tendência se agrava nos anos terminais dos cursos. Conforme noticia o DN:

«Copiam mais os alunos do interior e Alentejo, os finalistas e com notas inferiores a 13. O facto de se estar deslocado não tem influência Ser apanhado a copiar não acarreta "sanções sérias" fora da sala de exame e as penalizações não têm efeitos eficientes, defendem as investigadoras Mais de 60% dos estudantes do ensino superior admitem copiar nos exames. Um inquérito em larga escala, aplicado em dez universidades públicas portuguesas, demonstra ainda que existem diferenças regionais acentuadas os alunos do Alentejo são os que mais dizem cometer fraudes académicas, com 75% a admitirem que copiam algumas vezes, contra os dos Açores, com metade dos inquiridos a afirmar que nunca usa cábulas nas provas».


Portugal parece definitivamente livre de «contaminação calvinista». Recordo que há algum tempo, um aluno de Erasmus da Universidade do Porto, foi apanhado a copiar na Universidade de Helsínquia. O aluno em causa foi expulso, e o protocolo com a UP de pronto denunciado pela universidade finlandesa.
O Provedor do Aluno da UP em «Copiar ou não copiar – apenas uma questão de cultura?» relata o caso do ponto de vista da universidade portuense.

«A generalidade dos portugueses encara tradicionalmente com tolerância, talvez até com simpatia, a habilidade para contornar as regras estabelecidas. Aquilo que aos olhos de um comum europeu nórdico é distorcido e criticável pode parecer e ser visto pelos do sul como se fosse uma virtude.
(...) Ou seja, o que é preciso é não ser apanhado e mesmo que tal suceda, pode ser que a nacional «porreirice» faça vista grossa e tudo continue como dantes
(...) É urgente que os professores adoptem atitudes de rigor e de vigilância que são incompatíveis com a tal “compreensão” e laxismo para com este tipo de faltas, as quais, a não serem detectadas e punidas, geram injustiças, desigualdades, falta de equidade».


Compensa este crime? Talvez compense. É uma micro-aposta de Pascal, posta em prática sobretudo, e segundo o estudo, pelos alunos de classificações mais baixas: se copiar e for apanhado a consequência única é chumbar/ se não copiar e porque não sabe a matéria, chumba inapelavelmente.

Como informa o DN, que traz um destaque de cinco peças sobre o tema, o Estatuto Disciplinar do Aluno em vigor data de 1932:

«Silva Lopes, presidente do CRUP, explica que existe a consciência de que o enquadramento legal que regula a questão da fraude académica praticada por alunos precisa de ser "melhorado" e que é necessário que a matéria seja "regulamentada". Por isso, em meados de 2003, o CRUP entregou, em parceira com o Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos Superiores, ao então ministro do Ensino Superior, Pedro Lynce, o projecto de um novo Estatuto Disciplinar do Estudante. Mas a matéria ainda não avançou.»



4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Enquanto um novo estatuto disciplinar para o estudante não avança, sugiro o actual procedimento de alguns colegas docentes: colocar entre os critérios de avaliação a informação "qualquer fraude na disciplina impede a admissão a posteriores momentos de avaliação do corrente ano lectivo".
Espero que as fraudes venham a figurar no famoso suplemento ao diploma para os empregadores irem conhecendo melhor os candidatos...

quarta-feira, janeiro 04, 2006 2:19:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

brilhante, brilhante ideia:

«Espero que as fraudes venham a figurar no famoso suplemento ao diploma para os empregadores irem conhecendo melhor os candidatos...»

isso e um registiozinho de assiduidade não ficava lá nada mal.

quarta-feira, janeiro 04, 2006 5:38:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

oops, registozinho :(

quarta-feira, janeiro 04, 2006 5:39:00 da tarde  
Blogger LN said...

Bem interessante a ideia do registo no suplemento ao diploma. Isso, todavia, significaria vir a tornar-se uma espécie de «registo criminal» ou de «percurso biográfico»?!

O Estatuto disciplinar existe e pode ser complementado com regulamentos internos. O nosso "drama nacional" não é, exactamente, a legislação...

domingo, janeiro 08, 2006 4:44:00 da manhã  

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