segunda-feira, janeiro 30, 2006

Para que servem os Professores?

(N.B. - Porque Clara Pinto Correia se referiu aos 'Professores' em geral, a 'confissão' de Deana Barroqueiro cabe perfeitamente no Ubiversidade)


Para que servem os professores? - perguntou, no Prós e Contras, com trejeitos de animadora mediática, para gáudio e aplauso da plateia acéfala, Clara Pinto Correia, professora e investigadora (?), colunista e colunável que se tornou há bem pouco tempo notícia escandalosa em jornais e revistas por ter plagiado uns artigos científicos. Se foram esses os métodos ensinados pelos seus professores ou se os ensina aos seus alunos, não me espanta que questione a sua utilidade como professora, pois lhe bastará mandar os estudantes à Internet para fazer 'copy & paste' de um qualquer artigo! Mas a memória é curta... e este país parece sofrer de amnésia crónica.

E eu, professora do Ensino Secundário, por vocação e escolha, me confesso: ao fim de 35 anos de dedicação exclusiva ao ensino, senti-me esventrada até ao âmago da alma pela agudeza da pergunta e tentei encontrar uma (possível) resposta que gostaria de partilhar com o mundo. Para que servem, então, os professores?

Servimos, em primeiro lugar, como bombo da festa e consolo nacional para a ignorância, mediocridade e incompetência que grassa transversal e perpendicularmente em todas as profissões (sem excepção!) deste país; presumo, a julgar pela atitude da plateia, que não tivemos, nem temos, qualquer crédito na formação dos bons, dos competentes e dos cultos. Se os portugueses estão na cauda da Europa, não é por falta de habilitações, nem por trabalharem mal, mas por terem tido maus professores!

Servimos de desculpa e bode expiatório para a impossibilidade, incapacidade ou desinteresse dos pais (quantos destes naquela plateia?), encarregados de educação e outros familiares em ensinarem aos filhos, nos primeiros anos da infância, os princípios morais e cívicos, tão necessários à formação do indivíduo. Como poderá a escola impor hábitos de higiene, de delicadeza, de disciplina e outros igualmente básicos a alunos adolescentes, quando os não tiveram na infância? Servimos, assim, para assediar os pais com chamadas à escola, incomodando-os com ninharias como as faltas injustificadas, mau comportamento ou o desinteresse dos filhos.

Servimos também para arcarmos com as culpas e responsabilidades do falhanço continuado de reformas impostas por sucessivos Ministérios, feitas muitas vezes "sobre o joelho" e por gente que desconhece a realidade escolar e aposta no facilitismo para mascarar o insucesso.

Servimos de trampolim para muitos 'chicos-espertos' fazerem carreira à custa do nosso trabalho e da nossa dedicação, apesar das condições miseráveis das nossas escolas.

Servimos para muita coisa, pelos vistos, menos para ensinar as matérias das nossas disciplinas, porque passamos o tempo a tentar que os adolescentes se comportem com civismo, sentados (sim, C. P. Correia, um acto tão simples como ficarem sentados 45 m) a uma mesa, a trabalhar numa aula de Português ou de Matemática, sem gritos, sem conversa, sem música de telemóveis, para só falar nos males menores.

Servimos de pano para toda a obra, nas nossas escolas, mas servimos, acima de tudo, para amar os nossos alunos, para os compensar das muitas carências afectivas, mesmo quando nos rejeitam, para tentar ensinar-lhes, embora remando contra a maré de bruteza desta sociedade que os tritura, que há valores que são eternos, como os diamantes e, como eles, igualmente preciosos.

Deana Barroqueiro

Escritora e Professora do E. Secundário
(Carta aberta)

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Prezada Deana Barroqueiro:

1. Acaso a carta aberta pretendeu enunciar alguma crítica ao que CPC disse no programa? Se sim, não foi bem sucedida, pois apenas manifestou que CPC cometera o ilícito - aliás, aqui empolado e explorado - de um plágio numa crónica de jornal.

2. Acaso serão admissíveis extrapolações a partir do ilicíto de CPC para o seu trabalho enquanto investigadora (por si interrogado), enquanto docente universitária e, já agora, enquanto pessoa e cidadã?

3. Compreendo as razões de Deana Barroqueiro e admito que muito do que CPC diz é discutível. Mas uma coisa é discutir ideias, outra, a meu ver deplorável, é discutir a CPC. Pior ainda: reduzi-la ao ridículo.

4. Acaso terá Deana Barroqueiro lido "Adeus princesa" ou "O ovário de Eva"?

Cordialmente,
André Barata

segunda-feira, janeiro 30, 2006 5:06:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Prezada Deana Barroqueiro:

1. Acaso a carta aberta pretendeu enunciar alguma crítica ao que CPC disse no programa? Se sim, não foi bem sucedida, pois apenas manifestou que CPC cometera o ilícito - aliás, aqui empolado e explorado - de um plágio numa crónica de jornal.

2. Acaso serão admissíveis extrapolações a partir do ilicíto de CPC para o seu trabalho enquanto investigadora (por si interrogado), enquanto docente universitária e, já agora, enquanto pessoa e cidadã?

3. Compreendo as razões de Deana Barroqueiro e admito que muito do que CPC diz é discutível. Mas uma coisa é discutir ideias, outra, a meu ver deplorável, é discutir a CPC. Pior ainda: reduzi-la ao ridículo.

4. Acaso terá Deana Barroqueiro lido "Adeus princesa" ou "O ovário de Eva"?

Cordialmente,
André Barata

segunda-feira, janeiro 30, 2006 5:06:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei muito da "carta aberta". Sente-se escorrer o empenho e a paixão.

segunda-feira, janeiro 30, 2006 6:52:00 da tarde  
Blogger Esplendor said...

Cara Deana,
Concordo com tudo o que escreve e só compreendo esta súbita exposição mediática de CPC (não é a segunda vez, em poucas semanas, que ela vai ao Prós e Contras, que, por ser dia de cinema mais barato, não tenho o desprazer de ver?), por motivos políticos. Mas há um ponto que gostaria de abordar. O que para os alunos muitas vezes fica de um bom ou mau professor não são apenas os conteúdos que partilha com eles, mas uma ética, uma postura perante a vida, no fundo, a cidadania, que teóricos e governantes quiseram institucionalizar como disciplina obrigatória (a famosa 'formação cívica') mas que não se pode ensinar formalmente nas escolas, como muito bem referiu. É exactamente aquilo a que os teóricos chamam de 'currículo oculto'. Se nos recordarmos dos professores que tivemos, salvo raras excepções, verificamos que o que guardamos deles é exactamente isso. E não creio que CPC, com o seu plágio descarado, tenha muitas liçõs a dar sobre o assunto.

evva

terça-feira, janeiro 31, 2006 12:09:00 da tarde  
Blogger Jessica said...

Evitando comentar as declarações de CPC porque não as ouvi, atento apenas nos dois últimos parágrafos da carta aberta para dizer que muitos pais delegam cada vez mais nos professoras a tarefa de formar o carácter dos filhos. E que, surpreendentemente, noto em alguns meninos uma incapacidade de acreditar que alguém possa gostar deles incondicionalmente. Entendo a indignação da Deana, mas continuamos cá para ensinar a pensar e formar caracteres, ainda que aos olhos de alguns tudo isso não passe de tarefas inúteis. Se mais tarde pelo menos um aluno der valor ao papel do professor, então já valeu a pena.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006 12:59:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Apesar da realidade esculpida mediaticamente ser, concedo, distinta - ainda há poucos meses, no barómetro da marktest àcerca das profissões, os professores ocupavam o 3º ou 4º lugar, antecedidos dos médicos e jornalistas. Já os senhores políticos, estavam em último, e as percepções quanto aos juízes também os colocavam na base da tabela.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006 9:22:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Resposta de Deana Barroqueiro a André Barata, a propósito da Carta "Para que servem os professores", cujo comentário de 30/01/06 só agora vi.


Caro André Barata

No início do seu aparecimento na ribalta, admirei Clara Pinto Correia e lamentei-a posteriormente pelas suas intervenções cada vez mais espalhafatosas e medíocres. Todavia, quem se expõe ao ridículo e ridiculariza os outros, sujeita-se a ser ridicularizado por sua vez, sobretudo se tem “mataduras no lombo”. Ao contrário do senhor, não compreendo, nem desculpo plágios, tanto mais que Clara Pinto Correia, semanas antes de serem noticiados os seus “copy & paste”, se tinha lançado, no jornal O Público, num ataque impiedoso aos alunos plagiadores e aos professores que permitiam o plágio, afirmando, para além de todas as condenações morais e intelectuais, que lhes dava classificações de zero ou três valores (neste momento não me lembro com precisão o valor). Lamento imenso se choquei pela minha indignação, mas tomando C.P.C. atitudes públicas e mediáticas de condenação e agindo em contradição com o que diz, não se torna, pelo menos, ridícula? Bem prega frei Tomás...

Cordialmente
Deana Barroqueiro

sexta-feira, fevereiro 03, 2006 7:45:00 da tarde  
Blogger Luís Monteiro said...

Perde-se a razão com a carta aberta e com os comentários qd se discutem pessoas, ponto final.
Mas vamos às ideias (essas sim devem ser esgrimidas). De facto, concordo com a crítica à preguiça dos encarregados de educação e dos, absolutamente, intocáveis pelos media e opinion makers: os alunos que podem mas não estudam. Só 1a precisão:o artigo plagiado por CPC foi do New Yorker para a Visão.

sábado, fevereiro 04, 2006 8:05:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cara Deana Barroqueiro,

Prezei muito as suas preocupações. Só quis evitar a ridicularização de uma pessoa que tem obras que muito aprecio e que não foram plagiadas. Desculpe se pareci inflexível e a demora da minha resposta. Só era minha intenção pedir que cuidasse de distinguir ideias de pessoas. Aceite os meus melhores cumprimentos.

André Barata

terça-feira, fevereiro 07, 2006 1:00:00 da tarde  

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