quinta-feira, julho 27, 2006

Avaliação. Dois pássaros a voar

Adriano Moreira demitiu-se do cargo de presidente do Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior (CNAVES) e com ele demitiram-se os 6 vogais. A razão é o incumprimento do compromisso governamental: "Há um programa de avaliação para 2006, que foi aprovado pelo Governo em 2005. Contudo, não recebemos o financiamento previsto".

O CNAVES era o pássaro que tínhamos na mão e que Mariano Gago deixou literalmente morrer à míngua. Os pássaros a voar são a Agência Nacional de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, " um modelo que poderá futuramente ser acreditado pela Agência Europeia."

terça-feira, julho 18, 2006

Anedotas académicas, para rir e chorar

É uma anedota que um curso de Enfermagem em Portugal tenha uma nota de entrada superior a um curso de Engenharia. É uma anedota que um curso claramente politécnico, o de Turismo, Lazer e Património, seja um dos cursos de maior procura na vetusta Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É uma anedota que o curso de Engenharia Têxtil, o curso mais antigo da UBI, numa região de tradição e de indústria têxtil, feche por falta de alunos. É uma anedota que cursos de Engenharia admitam alunos sem a prova específica de Matemática ou de Física. É uma anedota que alunos de cursos superiores na área de Letras dêem erros ortográficos. É uma anedota que em tempos de racionalização da oferta educativa a Universidade de Aveiro abra o curso de licenciatura em Ciências do Mar quando a Universidade do Algarve tem dificuldade em captar alunos para os cursos da sua Faculdade de Ciências do Mar. É uma anedota que os alunos tenham a mesma representação que os professores nos órgãos colectivos das universidades, Senado e Assembleia da Universidade. É uma anedota que sejam só os alunos de graduação (licenciatura) a estarem aí representados, ficando de fora os de mestrado e doutoramento. É uma anedota que o Ministério da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior legisle abundantemente sobre o ensino superior e estejam ainda em vigor diplomas obsoletos, mas fundamentais, como a Lei da Autonomia das Universidades e o Estatuto da Carreira Docente Universitária. É uma anedota que o Governo seja o primeiro a desrespeitar as leis que ele promulgou, como a do Lei do Financiamento do Ensino Superior.
Aceita-se a indicação de mais anedotas.

quinta-feira, julho 13, 2006

Trabalho duro nas escolas

O artigo vem no New York Times, versão online, de 27 de Junho de 2006 e é da autoria de Nicholas D. Kristof e tem como título “Medicina chinesa para as escolas americanas”. Qual é essa medicina? Trabalho duro. Nas escolas chinesas os alunos estudam literalmente de manhã à noite, sem tempo para ver televisão e revendo nas “férias” do Verão as matérias leccionadas ao longo do ano lectivo de forma a não ter de reaprender tudo em Setembro.

A China educa 20% da população estudantil mundial com 2% dos recursos mundialmente destinados à educação. Há um currículo rigoroso de estudo em matemática e em ciências, imposto pelo governo. Todos os estudantes do secundário estudam biologia aprofundada e análise matemática, enquanto nos Estados Unidos apenas 13% dos alunos do secundário estudam análise e 18% biologia aprofundada.

O segredo ou a explicação da coisa, segundo Nicholas Kristof, é simples: os estudantes chineses têm muito mais horas de estudo, dentro e fora da escola, do que os seus colegas americanos; em média estudam o dobro. Alunos do 9º ano, de 15 anos, passam o dia inteiro a estudar. Aponta o caso de uma aluna, cujo pai lhe permite ver 10 minutos de televisão ao fim da tarde, nas férias de verão.

O governo chinês leva a educação a peito, mas muito mais a levam as famílias e os jovens estudantes chineses. É que esse é o meio para singrar na vida. A televisão é uma perda de tempo, e os jovens têm é de trabalhar arduamente na escola. Na América é diferente, em média as crianças americanas passam 900 horas por ano na escola e 1023 em frente ao televisor.
Em Portugal preocupamo-nos com a concorrência chinesa em produtos industriais, sobretudo no têxtil. Falamos das condições de trabalho em que muitos dos produtos chineses são fabricados. Porém, muito mais preocupante do que isso é a preparação escolar, árdua que os estudantes chineses têm e os estudantes portugueses não têm.

Mas não é preciso ir à China de hoje para ver que as políticas educacionais que vingaram no Ocidente, do aprender a brincar e sem esforço, nos conduziram ao descalabro no ensino. Um estudante universitário hoje em Portugal dá erros ortográficos, inadmissíveis num aluno da 4ª classe há quatro décadas atrás. E fala-se agora em Portugal – ministerialmente!! – em acabar com os trabalhos de casa. Deus nos ajude a entender.