segunda-feira, janeiro 30, 2006

Para que servem os Professores?

(N.B. - Porque Clara Pinto Correia se referiu aos 'Professores' em geral, a 'confissão' de Deana Barroqueiro cabe perfeitamente no Ubiversidade)


Para que servem os professores? - perguntou, no Prós e Contras, com trejeitos de animadora mediática, para gáudio e aplauso da plateia acéfala, Clara Pinto Correia, professora e investigadora (?), colunista e colunável que se tornou há bem pouco tempo notícia escandalosa em jornais e revistas por ter plagiado uns artigos científicos. Se foram esses os métodos ensinados pelos seus professores ou se os ensina aos seus alunos, não me espanta que questione a sua utilidade como professora, pois lhe bastará mandar os estudantes à Internet para fazer 'copy & paste' de um qualquer artigo! Mas a memória é curta... e este país parece sofrer de amnésia crónica.

E eu, professora do Ensino Secundário, por vocação e escolha, me confesso: ao fim de 35 anos de dedicação exclusiva ao ensino, senti-me esventrada até ao âmago da alma pela agudeza da pergunta e tentei encontrar uma (possível) resposta que gostaria de partilhar com o mundo. Para que servem, então, os professores?

Servimos, em primeiro lugar, como bombo da festa e consolo nacional para a ignorância, mediocridade e incompetência que grassa transversal e perpendicularmente em todas as profissões (sem excepção!) deste país; presumo, a julgar pela atitude da plateia, que não tivemos, nem temos, qualquer crédito na formação dos bons, dos competentes e dos cultos. Se os portugueses estão na cauda da Europa, não é por falta de habilitações, nem por trabalharem mal, mas por terem tido maus professores!

Servimos de desculpa e bode expiatório para a impossibilidade, incapacidade ou desinteresse dos pais (quantos destes naquela plateia?), encarregados de educação e outros familiares em ensinarem aos filhos, nos primeiros anos da infância, os princípios morais e cívicos, tão necessários à formação do indivíduo. Como poderá a escola impor hábitos de higiene, de delicadeza, de disciplina e outros igualmente básicos a alunos adolescentes, quando os não tiveram na infância? Servimos, assim, para assediar os pais com chamadas à escola, incomodando-os com ninharias como as faltas injustificadas, mau comportamento ou o desinteresse dos filhos.

Servimos também para arcarmos com as culpas e responsabilidades do falhanço continuado de reformas impostas por sucessivos Ministérios, feitas muitas vezes "sobre o joelho" e por gente que desconhece a realidade escolar e aposta no facilitismo para mascarar o insucesso.

Servimos de trampolim para muitos 'chicos-espertos' fazerem carreira à custa do nosso trabalho e da nossa dedicação, apesar das condições miseráveis das nossas escolas.

Servimos para muita coisa, pelos vistos, menos para ensinar as matérias das nossas disciplinas, porque passamos o tempo a tentar que os adolescentes se comportem com civismo, sentados (sim, C. P. Correia, um acto tão simples como ficarem sentados 45 m) a uma mesa, a trabalhar numa aula de Português ou de Matemática, sem gritos, sem conversa, sem música de telemóveis, para só falar nos males menores.

Servimos de pano para toda a obra, nas nossas escolas, mas servimos, acima de tudo, para amar os nossos alunos, para os compensar das muitas carências afectivas, mesmo quando nos rejeitam, para tentar ensinar-lhes, embora remando contra a maré de bruteza desta sociedade que os tritura, que há valores que são eternos, como os diamantes e, como eles, igualmente preciosos.

Deana Barroqueiro

Escritora e Professora do E. Secundário
(Carta aberta)

Bill Gates investe em UNIV's portuguesas

Boas notícias para as Univs. de Aveiro, do Minho e da Beira Interior: "Bill Gates vai patrocinar uma experiência-piloto com estas três Universidades portuguesas", no âmbito das "tecnologias da informação". É significativo, para este "jardim à beira mar plantado", que do outro lado o Atlântico vários olhos (v.g., MIT) se voltem ao mesmo tempo para esta margem. A pergunta é: o que é que vamos fazer de estratégico com estes "piscar-de-olhos"?

Aveiro crê que serão os únicos

e o jornal, claro, como lhe compete, investiga e confirma:
Só a Universidade de Aveiro está pronta para Bolonha

A Universidade de Aveiro (UA) parece ser a única instituição de Ensino Superior que está a trabalhar para, até 31 de Março, apresentar a reformulação de todas as suas licenciaturas. Ao JN, António Ferrari, vice-reitor da UA, disse que "embora haja ainda bastante trabalho a fazer, continuamos a trabalhar para cumprir aquele prazo, de modo a que todas as novas licenciaturas se possam iniciar já em Setembro de 2006".

Na maioria das instituições, as licenciaturas de acordo com os novos moldes só deverão arrancar a partir do ano lectivo de 2007/8. Fonte ligada ao processo disse, ao JN, que o artigo 53.º do anteprojecto de lei sobre graus académicos (relacionado com os processos de registo dos cursos) é tão importante quanto exigente e minucioso. Por isso, as instituições - principalmente as que oferecem uma grande variedade de cursos - não conseguem cumprir com todas as exigências até ao final de Março próximo.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Universidades de elite na Alemanha

Não tendo qualquer universidade no topo dos rankings universitários mundiais, a Alemanha decidiu seleccionar 10 universidades onde investirá 2 mil milhões de euros para as transformar em universidades de elite. As universidades seleccionadas são predominantemente do sul do país: Baviera e Baden-Würtenberg:

As dez universidades são as seguintes: Universidade de Munique, Técnica de Munique, Würzburg, Tübingen, Heidelberg, Karlsruhe, Freiburg, Aachen, Bremen, Universidade Livre de Berlim.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Rocha Pereira recebe Prémio Universidade de Coimbra



Pelo conjunto da obra e da sua carreira. Uma impressionante bibliografia, e o currículo da laureada, podem ser encontrados aqui, e aqui.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Depois dos tribunais, queixa ao ministro

Negociação avança

O coordenador do Plano Tecnológico, Carlos Zorrinho, afirmou hoje que a possível parceria entre universidades portuguesas e Instituto de Tecnologias de Massachusetts (MIT) poderá servir de exemplo a outros projectos do mesmo género.

Durante a sua audição pela comissão parlamentar de Assuntos Económicos e Inovação, Carlos Zorrinho disse ainda que Mariano Gago deverá deslocar-se aos EUA na próxima semana, para um encontro com responsáveis do MIT (link pago).

domingo, janeiro 22, 2006

Publish or perish

A relação entre financiamento e fraude científica, é explorada no Público de hoje, a propósito de dois casos recentes, que afectaram as prestigiadas Science e The Lancet.

Dois artigos científicos da equipa sul-coreana de Woo Suk Hwang retractados pela "Science" e, logo depois, a revista médica "The Lancet" retractou um artigo do norueguês Jon Sudbø. Os acontecimentos do último mês intensificaram o debate sobre as consequências e causas da fraude científica? Estudos sugerem que os mecanismos de financiamento actuais criam condições que promovem a fraude (link pago).

sábado, janeiro 21, 2006

Sobe de tom a polémica MIT

José Tavares, em declarações à Sic Notícias. Desmentido e contra-desmentido já a seguir, para que o diferendo seja definitivamente ultrapassado.
O caso que só agora - com a interpelação ao Primeiro Ministro - teve honras de primeira página nas televisões, já era discutido pela imprensa e blogs em meados de Dezembro.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

"Endogamia" enjeita vinda do MIT (?!)

No rescaldo da polémica “deixa” de José Tavares, ex-Coordenador do Plano Tecnológico do Governo, na pergunta que ontem fez ao 1º Ministro: “ambos sabemos que há no Governo um Ministro que está contra o projecto” da vinda do MIT para Portugal, o líder parlamentar do CDS, Nuno Melo, depois de hoje pedir explicações ao Executivo, avançou à TSF com o que corre em surdina nos corredores de S. Bento: uma das razões do “tal Ministro” (ninguém ainda sabe quem é, mas já toda a gente sabe quem é) teria a ver com o facto de o Projecto do MIT, apresentado ao Governo, prever recrutar e trabalhar com a melhor “massa cinzenta” de todas a Universidades portuguesas, enquanto o “tal Ministro” queria contrato de exclusividade com apenas uma (um doce para quem adivinhar qual era). “Endogamia” tecnológica na versão mais ciumenta e abortiva?

P.S. — Curiosamente, na entrevista que deu hoje à TSF, foi o Ministro Manuel Pinho, um dos mais entusiastas do Projecto, quem “gaguejou”; Mariano Gago excusou-se a falar à TSF e recusou prestar qualquer esclarecimento sobre o assunto.

Bolseiros protestam

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Apuro dos jornais em tempo de blogues

Dois textos de opinião americanos, uma polémica na blogo-esfera portuguesa e um caso pessoal, explicam, pelo menos em parte, a crise dos jornais (que não é só comercial, diminuição drástica de vendas, mas sobretudo cultural, de diminuição de influência no espaço público). e a importância crescente dos blogues.

Os textos de opinião são um do New York Review of Books, The end of news?, e outro o artigo de Joseph Epstein, intitulado "Are newspapers doomed?" no Commentary. São artigos que um académico ligado aos cursos de comunicação devia ler. O paradigma de uma informação sustentada economicamente por anúncios, inócua nas suas generalidades, confronta-se agora com o paradigma de uma quantidade imensa de zines, blogues, web-sítios, que se linkam e que criam redes de informação especializada muito mais interessantes que os meios de comunicação tradicionais, imprensa, rádio e televisão.

A crítica de Pacheco Pereira no Abrupto ao blogue Grandelojadoqueijolimiano, mas sobretudo a resposta destes (uma peça argumentativa de antologia), mostra que o espaço de opinião não se confina mais aos jornais estabelecidos e aos opinion makers encartados. Os blogues temáticos, (ver sobre o tema o artigo da Anabela Gradim "To blog or no to blog") estão aí como fonte aberta de informação e discussão. Trata-se agora de cada um ganhar a sua credibilidade e autoridade, pela riqueza da informação oferecida e pela consistência da argumentação aduzida.

Os jornais, de referência e não só, possuem desde sempre o poder de conferir visibilidade, ou desmultiplicar o peso e importância de um assunto, e, sobretudo, um poder negativo de perfil muito discreto: o poder de silenciar, o poder de não dizer - tão ou mais importante do que o primeiro. Comparando com as grandes cadeias de distribuição, Jerónimo Martins e Continente, que decidem sobre o que vender ou não vender, independentemente do valor do produto, também os meios de comunicação têm um poder tremendo de realçar e ocultar informação e opinião. Mas para os jornais, com o surgimento dos media uni-pessoais, those days are over. Podem todos os jornais decidir não haver espaço para um texto de opinião de crítica à política de Mariano Gago relativa à avaliação do ensino superior. Mas isso importa hoje muito menos do que ontem. O texto já se encontra alojado na página "Reformar a Educação Superior" de João Vasconcelos Costa, página incontornável de quem se dedica ao ensino superior em Portugal. Intitula-se "Avaliação da avaliação avaliadora", e encontra-se no local próprio, onde será acedido pelo público que verdadeiramente se interessa por tais questões.




terça-feira, janeiro 17, 2006

Endogamia V - Lei e mentalidades

O artigo do João Vasconcelos Costa "A endogamia, um tema em foco" constitui um importante contributo ao debate havido aqui neste blog sobre o tema, desencadeado pelo artigo de João Cravinho, e fá-lo de modo substantivo, sustentado num saber de experiência/reflexão feito (modo esse peculiar ao autor do sítio-web de referência Reformar a Educação Superior).

Concordo com JVC que "a endogamia é principalmente uma manifestação da cultura corporativa universitária e não acredito que as culturas mudem por decreto, muito menos por decretos com um único e linear artigo." Mas também acho que para um índice tão elevado de endogamia universitária como o que se regista em Portugal, uma lei anti-endogamia -- mais diferenciada que a proposta pr João Cravinho -- seria um meio de promover a necessária cultura de mobilidade universitária.

Não sei se há na Alemanha (país onde estudei alguns anos, em graduação e pós-graduação) uma lei a proibir as universidades de contratarem quem nelas fez a Habilitation, o grau subsequente ao doutoramento e que dá acesso à carreira professoral, nem se há alguma proibição de um professor fazer a progressão da carreira docente dentro da sua universidade, de auxiliar a catedrático. Sei sim que lá é uso e costume que qualquer passo da careira académica esteja ligado a uma mudança de universidade. A presunta lei Cravinho poderia ser alargada à carreira académica: "ninguém poderá fazer carreira na própria universidade", significando que quem quisesse passar de auxiliar a associado, e depois a catedrático, teria de concorrer ao lugar de uma outra universidade.

É evidente que o peso da história conta muito aqui. O monopólio universitário de Coimbra até à República (1910) obrigava à endogamia, e dava mesmo azo às dinastias de catedráticos. Em contrapartida, a Alemanha tem há séculos dezenas e dezenas de universidades. Mas a realidade em Portugal alterou-se, como escreve Tito Cunha, e seria bom agora estimular a mobilidade e adquirir os hábitos dos países com mais experiência e tradição universitárias. Não é normal achar-se normal que alguém se licencie, faça o mestrado, o doutoramento, e toda a carreira docente até catedrático, na mesma universidade!

Tudo começa com a falta de mobilidade dos estudantes universitários em Portugal. Um dos critérios fundamentais de escolha de curso e de escola é a proximidade ao lar paterno/materno, passando o critério da qualidade dos cursos (verificada pelas avaliaçãoes do CNAVES e pelos processos de acreditação das ordens profissionais) para um plano secundário. Depois não existem programas de intercâmbio universitário nacional. Os estudantes portugueses de graduação podem passar um ano fora do país e são financiados para isso, mediante os programas Erasmus, mas não há qualquer estímulo a passarem um semestre ou um ano lectivo numa outra universidade portuguesa, ao contrário do que se passa noutros países.

Ao argumento de que não se muda para pior, isto é, de que quem está no melhor curso ou na melhor escola não lucra nada em passar um tempo num curso ou numa escola pior, responde-se facilmente. Primeiro, o melhor é de natureza relativa e tem de ser continuamente verificado e confirmado. O que por vezes se tem como o melhor pode resultar da fama adormecida e não da realidade viva. Em segundo, a diversidade é em si um bem e conhecer o diverso é indispensável à educação superior.

A cultura da imobilidade é o chão em que medra a endogamia. Ora a mobilidade tem duas vertentes, a entrada e a saída. A endogamia nos departamentos universitários é fruto também de fechamento na saída. Admitir é fácil na carreira docente, mas demitir é dificílimo (nem só por motivos legais, mas também pelo porreirismo nacional que leva à tolerância de medíocres e incompetentes). Quem contrata tenta assim correr o menor risco nas admissões e jogar pelo seguro seleccionando os candidatos que conhece. Por isso, razão tem João Vasconcelos Costa quando no texto sobre endogamia refere a questão da nomeação definitiva e a considera mesmo como "o momento decisivo da luta contra a endogamia." A nomeação definitiva constitui o momento de prova (de confirmação ou de negação) da selecção e da aposta feita no processo de admissão. Quanto maior for a possibilidade de corrigir uma selecção feita, tanto maior será a capacidade de opção por um candidato externo.

UBI volta a ganhar prémio Secil

Pela terceira vez, a Universidade da Beira Interior volta a ganhar o Prémio Secil - Universidades, com o trabalho de dois alunos de da instituição.
Os Prémios Secil constituem uma das facetas da Política de Mecenato da empresa. O Prémio Secil Universidades tem como objectivo incentivar a qualidade do trabalho académico e o reconhecimento público de jovens oriundos das Escolas de Arquitectura e Engenharia Civil portuguesas.
A Secil promove ainda dois Prémios que se destinam a Arquitectos e a Engenheiros Civis. A Organização destes eventos é realizada em colaboração com os órgãos nacionais de representação das profissões envolvidas: Ordem dos Arquitectos e Ordem dos Engenheiros. Conforme noticia o Público de hoje:

A Universidade da Beira Interior (UBI) voltou a vencer os Prémios Secil - Universidades 2005, na variante de Engenharia Civil, com um trabalho desenvolvido por dois alunos finalistas. O concurso distinguiu três projectos, entre os quais o dos dois alunos da UBI, Sandra Monteiro e Abel Martins, ambos da licenciatura de Engenharia Civil, que apresentaram um trabalho intitulado Igreja Notre-Dame du Raincy (link pago)

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Inovação terá 15 milhões

O novo coordenador do Plano Tecnológico, Carlos Zorrinho, dá hoje uma extensa entrevista ao Correio da Manhã. Até 2013, 60% dos fundos que virão de Bruxelas serão destinados a projectos relacionados com a inovação. Portugal ocupa o 18º lugar neste indicador, num ranking de 25 países da comunidade europeia.

Ainda Bolonha

Coimbra só avançará com a reestruturação dos seus cursos no âmbito do Processo de Bolonha em 2007/2008, disse Seabra Santos ao DN:

Atendendo a esta indefinição de decisões, a Universidade de Coimbra preferirá apresentar uma oferta consolidada no ano 2007/ 08, em vez de uma oferta atrapalhada um ano antes. Vamos progredir cautelosamente neste processo, sem nos precipitarmos, de modo a não contribuirmos para a confusão nacional que há sobre esta matéria.

Abandono preocupa Coimbra

Na Universidade de Coimbra, "62 por cento dos alunos que abandonaram o curso em 2003/04 não tinham feito uma única cadeira e 77 por cento tinham feito zero, uma ou duas disciplinas", garante o reitor desta Universidade. No ano lectivo de 2003/04, os números totais de abandono naquela instituição ascenderam a 2022 alunos. E no passado ano lectivo o número agravou-se 2372 alunos desistiram do seu curso.
O combate às elevadas taxas de abandono escolar, propinas diferenciadas e o perfil e futuro das universidades portuguesas no mercado europeu preocupam o reitor da academia coimbrã.

UP lança Editora

A nova Editora UP, criada há seis meses pela Universidade do Porto, prevê publicar em 2006 dez a 15 livros, sobre temas tão variados como leptina, termalismo e teatro, disse, à Lusa, a responsável editorial.

Mais detalhes sobre o projecto editorial, autores, catálogo de publicações, e obras no prelo, aqui.

sábado, janeiro 14, 2006

Evolução vagas Superior 1998-2006

Disponível on-line, desde Dezembro, Relatório sobre a Evolução do número de vagas no Ensino Superior, 1998-2006. No ano lectivo de 2005/06 o número de vagas de acesso, disponibilizado pelos estabelecimentos de ensino superior foi de 83.771, correspondendo a um decréscimo de 2,2%, relativamente ao ano lectivo de 1997/98. Deixando de lado a variação ao longo do período, na comparação directa entre o ano de 1998 e do de 2006, apenas aumentam as vagas disponíveis em: Saúde e Protecção Social; Serviços; Artes e Humanidades .

Portugal em 18º no ranking da Inovação

Portugal continua longe dos países líderes europeus em matéria de inovação. De acordo com o «Ranking Europeu da Inovação», agora divulgado pela Comissão Europeia, o nosso país ocupa o 18.º lugar entre os 25 Estados-membros da União Europeia. O desempenho português nas actividades ligadas ao desenvolvimento tecnológico e à componente inovação é baixo e pode, segundo David White, director de Inovação da Direcção-Geral da Indústria, «vir a dar problemas a longo prazo, se não houver qualquer alteração da realidade actual». Apesar desta previsão, o relatório coloca Portugal no quadro dos países em recuperação no domínio da inovação.

Doutores & Engenheiros


Isto não é novidade, mas os números impressionam: 900 projectos por ano dá 2,5 projectos por dia, incluindo Sábados, Domingos e Feriados.

Portugal tem cerca de 60 mil pessoas a exercer engenharia ilegalmente. A denúncia parte do presidente da Associação Nacional de Engenheiros Técnicos (ANET), que afirma ainda ter elementos sobre profissionais que assinam 900 projectos por ano.
De acordo com o responsável pela organização que atribui o título profissional de engenheiro técnico, existe "uma massa enorme de engenharia que é feita por pessoas não habilitadas ou cuja habilitação não é reconhecida pelas associações de direito público". Pessoas que, garante, "dirigem obra e fazem projectos a coberto da assinatura de outros profissionais" e que acabam por assumir responsabilidade por um número elevado de projectos.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Desvario no Superior

"Bolonha e desvario no Ensino Superior" é a resposta da Sopcom ao documento do CRUP "Ensino Superior. Consolidação da Oferta Educativa", que propõe a uniformização da nomenclatura dos cursos de licenciatura, e está a ser fortemente contestado na área das Ciências da Comunicação.
A direcção da SOPCOM - Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação demarca-se assim das pretensões do CRUP para a área das Ciências da Comunicação, afirmando que os reitores não discutiram a proposta com as direcções de curso existentes.
Além de estar contra

«um "formalismo injustificável" na divisão de áreas científicas entre universidades e politécnicos, leva que a soluções actuais da Universidade tenham de sair do seu âmbito, ao mesmo tempo que outras leccionadas nos politécnicos lhe passem a estar vedadas.»
a Sopcom também acha que a alteração da designação dos nomes dos cursos nas Ciências da Comunicação não acautela devidamente as especificidades de certas formações, propondo em alternativa

«que seja realizado um "estudo cientificamente orientado" para as designações e que seja adoptada uma terminologia única de Ciências da Comunicação , com a indicação de uma especialidade, que pode ir do jornalismo às artes digitais.»


quinta-feira, janeiro 12, 2006

Endogamia no sistema universitário IV

No Público de ontem (11 Jan. 2006), Nuno Nabais, professor no Departamento de Filosofia da Universidade de Lisboa, começava por referir o enfezamento causado pela endogamia nos departamentos universitários, em artigo intitulado "O saber como placebo" (link pago) :

Em Portugal, há muito tempo que as universidades estão vazias por fora. Os Departamentos reproduzem-se em circuito fechado, na monotonia das gerações e das tribos internas. Os concursos só são públicos no momento da abertura. Os resultados são sempre privados. Qualquer candidato externo é suspeito. A endogamia nas nossas universidades públicas é a mais elevada da Europa. Também somos, na Europa, o país com maior percentagem de concursos internos contestados judicialmente. Excessivamente incestuoso, o quotidiano dos Departamentos não pode fazer-se senão de golpes de teatro permanentes. É por isso que, do lado de fora, o deserto não pára de crescer. Gerações e gerações de investigadores nunca chegaram a existir, ou simplesmente desapareceram, sem rasto e sem obra.

3 + 2 já em 2006

Algumas escolas portuguesas poderão avançar com licenciaturas de 3 anos já em 2006/2007; e Mariano Gago admite financiar cursos do 2º ciclo sempre que necessários ao exercício da profissão, e quando as propinas não ultrapassem as de licenciatura.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Endogamia no sistema universitário III

Post enviado por André Barata

Para resolver a endogamia universitária
-- Réplica à proposta do Eng. Cravinho


1. Sobre os malefícios da endogamia universitária, o problema reside não tanto na endogamia propriamente dita, quanto naquilo a que esta se presta, a saber, a ocasião para ganhos de poder (para quem está em posição disso) pelo facto de não terem sido prevenidas, nas instituições de ensino superior, possibilidades de interferências entre o plano da prestação de provas científicas e o plano do ingresso e progressão nas carreiras.

Não fora a existência efectiva destas possibilidades de interferência, e a endogamia, enquanto tendência, perderia grande parte do seu sentido. Esta, na verdade, mais não faz do que quotidianizar o que aquelas propiciam. E não é pouco o que assim se propicia: a garantia, por exemplo, de que os professores que podem orientar dissertações terão, por orientandos, alunos que os escolhem, não por razões essencialmente científicas, mas por acontecer estarem, na qualidade de docentes, na sua dependência. E isto pode contar favoravelmente para ambos, no que classificaria como uma espécie de compromisso prático: da parte do aluno/docente conta pelo facto de lhe importar, enquanto docente, convencer a hierarquia de que tem qualidades; da parte do professor que orienta conta, naturalmente, para o seu cv, mas também, caso esteja nessa disposição, para coarctar infidelidades científicas a quem, seja encarado como aluno ou como docente, pode valer sobretudo como seu prosélito.

2. Propor como o Eng. Cravinho que nenhuma universidade pública possa recrutar um seu recém-doutorado para o seu corpo docente não resolveria o problema da endogamia. Imagino facilmente presidentes de dois departamento ou de duas faculdades "amigas" a combinarem colocações temporárias de recém-doutorados, para, depois, passado o período de nojo, se recompor a situação, como se, ao fim e ao cabo, não mais do que fazer uma espécie de estágio se tratasse. Na verdade, "só" mais um adiamento, antes de se poder começar realmente a trabalhar. É claro que posso suspender esta desconfiança e supor que, num mundo bem intencionado, a solução proposta pelo Eng. Cravinho resolveria certamente o problema. Mas não é menos certo que traria outros problemas que eu não desejaria ter de enfrentar. Por exemplo, o simples facto de, uma vez obtido o grau de Doutor, um investigador se ver privado da possibilidade de trabalhar na instituição que o formou revela uma arbitrariedade inadmissível. Tanto mais quanto é razoável presumir que tendam a coincidir as suas preferências quanto à instituição de formação e quanto à instituição na qual fará, se chegar a fazer, a carreira. A arbitrariedade não está, pois, apenas em se eliminar um cenário possível, mas em se eliminar o preferível. A reforçar este ponto é preciso que se diga que os juízos de preferência fazem muito sentido num pequeno país como Portugal. Não é raro suceder, no nosso meio nacional, só uma instituição deter determinado campo científico, e mesmo quando há duas, três ou meia dúzia também não é raro só uma estar em condições de contratar formandos. Ora, seria, no mínimo, tolo pensar como aceitável que essa instituição se devesse obrigar a excluir das candidaturas para um lugar de docente e/ou investigador os seus melhores ex-alunos ou, para falar realmente de pessoas, aquelas em que mais investiram ao longo de anos, aquelas em que a cultura da escola é um valor, aquelas que se querem como discípulos e continuadores de uma obra em curso (o que não é, obviamente, para ser confundido com o proselitismo atrás denunciado). Importa, enfim, nestes, como noutros assuntos em que estão em causa! os modos de vida de pessoas, instituições, até mesmo de culturas, lembrar que o voluntarismo pode conduzir facilmente ao desastre. Como estas, que já me bastam, muitas outras me levam a declinar a bondade da proposta do Eng. Cravinho, não obstante, claro está, a bondade das suas intenções. Todos sabemos o que se reza nesta situação - de boas intenções...

3. Que fazer então? A solução para enfrentar o problema parece-me simples, desde que pensada com cautela. Sugiro que se adopte uma pequena legislação, cautelosa mas à mão da capacidade de iniciativa de qualquer instituição. Dessa pequena legislação, constam três pontos, que ponho à consideração:
I. A orientação das dissertações com vista à obtenção do grau de Mestre ou de Doutor não pode caber exclusivamente a docentes da instituição.

II. A frequência lectiva nos cursos de Mestrado e de Doutoramento não pode ser integralmente cumprida na instituição que confere o grau.
III. Os detentores de cargos executivos (Reitor, Vice-reitores, Presidentes de Faculdade e de Departamento) não podem, no exercício dos seus mandatos, desempenhar as funções de orientador de dissertação.
Talvez saiba a pouco, mas estou convencido de que seria o suficiente para limitar grandemente as possibilidades de interferência entre a avaliação científica de um formando e a gestão, digamos assim, das carreiras universitárias dos orientandos e dos orientadores. Como bónus, traria ainda uma maior circulação de pessoas na gestão universitária. Por fim, como última vantagem, o que proponho é, tanto quanto me aperceba, imediatamente exequível - diria que fazê-lo é mesmo apenas uma questão de vontade, hic et nunc.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Pontos nos ii


Revista mensal de Política Educativa da Texto Editora, dirigida por Santana Castilho, que também assina crónicas de Educação no Jornal Público.

Este primeiro número traz uma entrevista a Mariano Gago; um testemunho do Presidente da República; um perfil de Maria Filomema Mónica; e um trabalho sobre a profissão de (jovem) investigador em Portugal.

No Estatuto Editorial promete-se que a revista

«privilegia a Política da Educação e procura, pelas vias da criatividade, da imaginação e da crítica, participar no processo de mudança da sociedade contemporânea portuguesa».

«pretende dinamizar o debate das grandes questões educacionais que se colocam à sociedade, com a convicção de que só a informação e o saber geram sociedades plurais, intervenientes, abertas e solidárias e de que só destas podem emanar democracias fortes».

A nova revista, que tem uma periodicidade mensal, será distribuída juntamente com o Jornal Público - que participa na sua edição. Os primeiros 4 números serão gratuitos, depois passarão a acrescer 2,5 euros ao preço normal do jornal.

Endogamia no sistema universitário II

Post enviado por Tito Cardoso e Cunha.

O texto do Jorge Rosa suscita-me os seguintes comentários sobre a questão da endogamia:
1.- A regra da endogamia no sistema universitário não se pode encarar como longínqua utopia. É um problema de necessidade se se quer ver reconhecida internacionalmente a universidade portuguesa. A gigantesca percentagem de 93% de endogamia (cito de memoria a partir de um artigo no El Pais) desprestigia a universidade portuguesa, relega-a para níveis terceiromundistas.
2.- Há certamente razões históricas e sistemáticas que explicam esses níveis tão elevados de endogamia. Havia entre nós uma tradição, prestes acabar por força das circunstâncias, que fazia a carreira docente universitária começar ao nível de assistente. Nessa situação, o docente devia, simultaneamente, assegurar a leccionação de disciplinas e preparar o doutoramento. Ora, as novas circunstâncias fazem, e bem, com que a carreira docente se inicie apenas com o doutoramento concluído. Antes disso é-se estudante e, a esse título, deve-se ter direito a todos os incentivos possíveis. Para terminar o doutoramento, não para dar aulas.
3.- A questão da mobilidade é hoje mais uma questão de bloqueio mental do que outra coisa. Fora de Lisboa já começa a haver salvação. Com a vantagem de tudo ser mais barato uma vez que se sai da capital, começando pela habitação.
4.- O problema do emprego dos doutorados (e das doutoradas, cada vez mais) não se pode resolver com a endogamia. Não se trata de pôr pessoas “no olho da rua.” Se eles, enquanto estudantes de doutoramento, não estão dentro do sistema, não se põe o problema de os expulsar, antes o de os integrar. E a endogamia não será o melhor meio de conseguir esse objectivo. O que cria emprego é a exogamia porque liberta os lugares tradicionalmente açambarcados pelo sistema mandarinal. Porque, precisamente, o grande inconveniente do mandarinato é a limitação da carreira académica ao exercício da subserviência dependente que não está necessariamente relacionada com a excelência científica.
5.- Onde Jorge Rosa tem certamente razão é ao sugerir que o problema da endogamia não se resolve em si e por si. A sua resolução implica alterações substanciais não apenas de mentalidade mas também de enquadramento. Certamente que o ECDU tem de ser profundamente alterado. Ele é hoje uma das razões fundamentais do bloqueamento da progressão nas carreiras a que temos vindo a assistir. E é também uma das razões fortes da predominância da endogamia na universidade portuguesa.
6.- A meu ver a questão estrutural que mais tem bloqueado tudo resolver-se-ia, porventura com relativa facilidade, se se distinguissem duas coisas que deveriam ser pensadas separadamente: a normal progressão na carreira e o provimento de um lugar. No primeiro caso tratar-se-ia de avaliar o desempenho, sobretudo científico, do docente investigador. Isso deveria ser feito com base em apreciações vindas de fora. No segundo caso, trata-se de prover um lugar vago. Aí faz todo o sentido abrir um concurso em que o candidato, vindo de fora, é escolhido internamente pela instituição. O nosso problema é que confundimos as duas coisas e para haver progressão é preciso abrir concurso e, consequentemente, lugar a prover. Não havendo lugar, ninguém progride. Ou, no sistema mandarinal, progride e é pro(mo)vido quem demonstrar boas qualidades de subserviência. Isto é o que o actual sistema permite, o que não quer obviamente dizer ser sempre esse o caso.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Bolonha. Da indecisão à confusão

O debate sobre o processo de Bolonha em Portugal afulinou-se na questão da duração do 1º ciclo e no financiamento do 2º ciclo. O Governo deixou em aberto se o 1º ciclo seria de 3 ou 4 anos:
Na organização curricular por créditos, um ano curricular corresponde aproximadamente a 60 ECTS. Assim, a fixação à escala europeia, que adoptamos, de uma duração, para o primeiro ciclo de estudos superiores, entre 3 e 4 anos, ou equivalentemente, 6 e 8 semestres, significa mais precisamente que os créditos adquiridos pelo estudante deverão atingir, nesse ciclo, entre 180 e 240 ECTS. (art. 9 da Lei nº49/2005 )
Para logo de seguida apenas garantir o financiamento do 1º ciclo e o do 2º ciclo, em montantes iguais aos do 1º ciclo, unicamente quando a formação profissional assim o exija.
nos casos em que para o acesso ao exercício de uma determinada actividade profissional a duração da formação deva ser superior a oito semestres curriculares de trabalho por força de normas legais da União Europeia ou de uma prática estável e consolidada na União Europeia" (art. 15, alínea b).
Perante isto, que fizeram e que fazem os reitores? Escolher obviamente o modelo que lhes garanta o maior financiamento. Se quase todas as universidades do país têm excesso de pessoal docente e nenhum reitor quer assumir o ónus de despedir docentes, a solução é optar por um 1º ciclo mais longo (4 anos com financiamento garantido) e um 2º ciclo mais curto (1 ano sem financiamento garantido). Daí a fórmula votada já por algumas universidades, nomeadamente a do Porto, de 4+1.
Em França a solução foi napoleónica, 3+2, o Estado financia os dois ciclos e assunto arrumado.
Em Portugal, o Ministro alija a responsabilidade e as universidades que decidam. E assim temos que da indecisão ministerial chegámos à confusão reitoral.

CRUP pondera adiar Bolonha

O Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas encontra-se hoje reunido para ponderar o adiamento, por um ano, ou seja, para 2007/2008, do funcionamento dos três ciclos de estudo previstos por Bolonha. Entre as razões apontadas para esta possibilidade encontra-se o facto de a legislação ainda não ter sido publicada pelo Governo; e os ciclos poderem começar a funcionar em 2010.

«A entrada em vigor de três ciclos estava prevista para começar já no próximo ano lectivo, mas muitas escolas não conseguirão cumprir o objectivo, considera Leopoldo Guimarães, para quem Bolonha não pode ser uma "oportunidade perdida". Por isso, o reitor [da Universidade de Lisboa] propõe que se adie por mais um ano a aplicação dos ciclos no ensino superior português, empurrando para 2007/2008 a generalização do processo. (link pago)
O presidente do CRUP, José Lopes da Silva, reitor da Universidade Técnica de Lisboa, vê com bons olhos o adiamento por um ano, embora saiba que muitas escolas podem estar preparadas para avançar já no próximo ano lectivo. Se o fizerem será a título experimental, considera. Afinal, ainda há tempo para aplicar Bolonha, já que a meta é 2010.»

domingo, janeiro 08, 2006

Quase tudo sobre Educação









Excelente página com links para dezenas de artigos sobre educação. Superior e Secundário, quase tudo o que se tem publicado na imprensa portuguesa, e não só, pode encontrar-se neste «Recortes» da educação, que está dividido nas seguintes entradas: Educação; Rankings nas Escolas; Pós-modernismo em Portugal (incluindo o debate A.M Baptista - Boaventura Sousa Santos); Pós-modernismo na imprensa internacional; Portugalidades.

A página pertence a Nuno Crato, Professor Associado com Agregação de Matemática e Estatística no ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa.

(Via f, no Professor Sem Quadro)

Choque tecnológico e continuidade científica

Maria Manuel Mota, Investigadora Principal do Instituto de Medicina Molecular e Professora Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa escreve hoje no Público (link pago) sobre investigação científica, financiamento e continuidade, avaliação, qualificação dos portugueses e endogamia universitária:

«Portugal atinge o topo na categoria de "consanguinidade universitária" num estudo apresentado na revista científica Nature, com 91% de docentes universitários a exercer funções nos locais onde obtiveram a sua formação. Do lado oposto temos o Reino Unido ou a Alemanha com 5% e 1%, respectivamente. Foi concluído ainda que a produção científica é indirectamente proporcional à consanguinidade».

A resposta de Juan Pedro Camacho, do Departamento de Genética da Universidade de Granada, relativamente às causas da endogamia em Espanha, pode ser encontrada aqui (via Jorge Rosa)

Passatempo completamente off topic

Descubra as diferenças:

www.kenwood.es

www.kenwood.pt

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Outra perspectiva das relações entre Técnico e Ministério da Ciência

O Jorge Rosa, bolseiro e doutorando em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, responde ao post sobre O Técnico, o Ministério da Ciência e a endogamia assim:

É verdade, mas a verdade tem por vezes diversos lados. Se não vejamos:
- é o Técnico que tem mais doutorandos e pós-doutorandos nos Estados Unidos (curiosamente o país onde são mais restritas as regulamentações anti-endogamia universitária, mas não se pode comparar a escala do país com a nossa, como se verá abaixo);
- é o Técnico que tem mais anos de prática de orçamentação de projectos de investigação (é daí que vem toda aquela história das «Despesas Gerais» e das «Taxas de Imputação»);
- é o Técnico que tem uma maior tradição de ligação das universidades às empresas.
E a lista poderia continuar...

Sem dúvida que está na altura de dar outras vozes à FCT, mas tenho dúvidas quanto ao que seria do Ministério da Ciência e em particular da FCT se não fosse a cultura de rigor introduzida pelo Técnico.

Quanto ao artigo do João Cravinho, é por enquanto uma utopia (para não usar outro termo muito menos eufemístico). Não há suficiente mobilidade em Portugal para alguém fazer o doutoramento em Lisboa, enquanto está a pagar uma casa, e de repente, terminado o doutoramento, esperar que abra de imediato um concurso no Porto ou na Covilhã (mas qual concurso, se as vagas estão praticamente congeladas???), e mudar-se de armas e bagagens ou então sustentar duas rendas ou renda+deslocações. E já que a tradição das leis anti-endogamia vem dos Estados Unidos, compare-se um pouco a situação com este país. São 50 estados, quase 300 milhões de habitantes, e um número gigantesco de universidades e de alunos. Só o campus de Berkeley da Universidade da Califórnia (há mais 9 campus, para além de outras universidades neste estado) tem mais de 30 mil alunos de diversos graus. Um recém-doutorado em Berkeley pode ver que vagas há em todo o país -- há sempre boas probabilidades de encontrar pelo menos alguma na sua área -- e, por exemplo, ser contratado como professor auxiliar na Pensilvânia (já agora, esta é uma situação verídica). Em cerca de um mês pode mudar-se de armas e bagagens para um local a cerca de 4000 quilómetros. Alguém está a pensar candidatar-se a uma vaga em Moscovo?
Voltando à realidade portuguesa, tome-se este outro exemplo. Imagine-se dois doutorandos, inscritos na mesma universidade pública; um está contratado por uma privada ou por um politécnico, ou outro é assistente nessa universidade. Terminados os doutoramentos, o que está na privada/politécnico pode continuar onde está, pois não é a instituição onde obteve o grau; o que está na pública vai para o «olho
da rua» porque a lei assim o dita. Assim, quem quer ser contratado para uma pública?
Na actual situação, uma lei anti-endogamia iria simplesmente servir para desincentivar as inscrições em doutoramentos. Enquanto não houver uma massa crítica de universidades, graus, etc., mais incentivos a doutoramentos lá fora, estabilidade financeira para quem quer obter graus académicos (por exemplo um subsídio de desemprego a ex-bolseiros enquanto procuram novo emprego num país em que iniciar a vida activa depois dos 30 é um tiro no escuro), e muito, mas mesmo muito mais, a endogamia é um mal menor. Esperemos entretanto que outros mecanismos vão evitando o que de nefasto este possa ter.
«Não custa[ria] um tostão ao Estado», diz o João Cravinho, que não parece estar disposto a acrescentar mais nenhum artigo a essa lei. Só se for numa Neverland ou numa Erewhon qualquer!!!
E já agora, alguém sabe quantos professores do Técnico fizeram o doutoramento nas outras faculdades de ciências portuguesas (i. e., nem no Técnico nem no estrangeiro)?

Inflação de notas e avaliação de professores

A avaliação dos professores pelos alunos (online ou em papel) comporta, entre outros riscos, a inflação de notas. O sítio americano Society for A Return to Academic Standards disponibiliza um considerável número de documentos sobre o tema. A pressão de directores de escolas e de associações de estudantes é de "cativar" alunos com classificações altamente inflacionadas.
Over the last thirty years, the system of student evaluation of teachers in colleges evolved - step by step - as a result of an implicit plot by academic administrators [who are unable to fill classes by students properly prepared to attend these classes] and by unqualified students [who want to be awarded high grades without either having or getting skills and knowledge].

Em Portugal é sabido como a inflação de notas tem desvirtuado certos sistemas de ensino superior (os alunos dos politécnicos apresentam geralmente classificações mais elevadas que os alunos das universidades) e certos graus académicos (nos mestrados e nos doutoramentos a atribuição da nota máxima é geral e corriqueira). Um sintoma dessa inflação são os curricula vitae que apresentam o Muito Bom obtido no Mestrado e omitem a nota final de licenciatura.

Mais de metade copiam


Um inquérito de duas investigadoras da Faculdade de Economia do Porto, realizado junto de uma amostra de 2700 estudantes do Ensino Superior, revelou que 60% admitem copiar nas provas de exame, e que a tendência se agrava nos anos terminais dos cursos. Conforme noticia o DN:

«Copiam mais os alunos do interior e Alentejo, os finalistas e com notas inferiores a 13. O facto de se estar deslocado não tem influência Ser apanhado a copiar não acarreta "sanções sérias" fora da sala de exame e as penalizações não têm efeitos eficientes, defendem as investigadoras Mais de 60% dos estudantes do ensino superior admitem copiar nos exames. Um inquérito em larga escala, aplicado em dez universidades públicas portuguesas, demonstra ainda que existem diferenças regionais acentuadas os alunos do Alentejo são os que mais dizem cometer fraudes académicas, com 75% a admitirem que copiam algumas vezes, contra os dos Açores, com metade dos inquiridos a afirmar que nunca usa cábulas nas provas».


Portugal parece definitivamente livre de «contaminação calvinista». Recordo que há algum tempo, um aluno de Erasmus da Universidade do Porto, foi apanhado a copiar na Universidade de Helsínquia. O aluno em causa foi expulso, e o protocolo com a UP de pronto denunciado pela universidade finlandesa.
O Provedor do Aluno da UP em «Copiar ou não copiar – apenas uma questão de cultura?» relata o caso do ponto de vista da universidade portuense.

«A generalidade dos portugueses encara tradicionalmente com tolerância, talvez até com simpatia, a habilidade para contornar as regras estabelecidas. Aquilo que aos olhos de um comum europeu nórdico é distorcido e criticável pode parecer e ser visto pelos do sul como se fosse uma virtude.
(...) Ou seja, o que é preciso é não ser apanhado e mesmo que tal suceda, pode ser que a nacional «porreirice» faça vista grossa e tudo continue como dantes
(...) É urgente que os professores adoptem atitudes de rigor e de vigilância que são incompatíveis com a tal “compreensão” e laxismo para com este tipo de faltas, as quais, a não serem detectadas e punidas, geram injustiças, desigualdades, falta de equidade».


Compensa este crime? Talvez compense. É uma micro-aposta de Pascal, posta em prática sobretudo, e segundo o estudo, pelos alunos de classificações mais baixas: se copiar e for apanhado a consequência única é chumbar/ se não copiar e porque não sabe a matéria, chumba inapelavelmente.

Como informa o DN, que traz um destaque de cinco peças sobre o tema, o Estatuto Disciplinar do Aluno em vigor data de 1932:

«Silva Lopes, presidente do CRUP, explica que existe a consciência de que o enquadramento legal que regula a questão da fraude académica praticada por alunos precisa de ser "melhorado" e que é necessário que a matéria seja "regulamentada". Por isso, em meados de 2003, o CRUP entregou, em parceira com o Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos Superiores, ao então ministro do Ensino Superior, Pedro Lynce, o projecto de um novo Estatuto Disciplinar do Estudante. Mas a matéria ainda não avançou.»



segunda-feira, janeiro 02, 2006

O Técnico, o Ministério da Ciência e a endogamia

Mariano Gago, o ministro da ciência, é professor no Instituto Superior Técnico; Manuel Heitor, o secretário de estado da ciência é professor no Técnico, João Sentieiro, novo presidente da FCT, é professor no Técnico (que sucede a Ramôa Ribeiro que é professor no Técnico, que sucedeu a Luis Magalhães, também professor no Técnico). No ministério, Mariano Gago sucedeu a Graça Carvalho que é professora no Técnico.
Se, na opinião de João Cravinho, a endogamia é o principal mal que afecta a universidade portuguesa e que deveria suscitar a grande reforma universitária, então convenhamos que a endogamia entre o Técnico e o Ministério da Ciência não é exemplo a seguir.